quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Se aguentássemos ...


Se aguentássemos o que podemos ver...
os motores a nos pôr malucos,
amantes enfim se odiando;
este peixe no mercado
subindo em direção às nossas mentes;
flores apodrecendo, moscas presas nas teias;
revoltas, rugidos de leões enjaulados,
palhaços fazendo amor com notas de dólar;
nações movendo gente como peões;
ladrões à luz do dia com maravilhosas
esposas à noite e vinhos
as cadeias superlotadas,
o desempregado padrão.
A relva que morre, fogos de quarto de dólar
homens velhos o suficiente para amar a cova.
Essas coisas, e outras em essência
mostram a vida oscilando sobre um eixo podre.
Mas elas nos deixam um pouquinho de música
e um show apimentado na esquina
um trago de scotch, uma gravata azul. 
um pequeno volume com poemas de Rimbaud,
um cavalo correndo como se o demônio lhe torcesse o rabo
sobre os capinzais gritando, e então
o amor de volta
como um bonde dobrando a esquina
no horário certo,
a cidade esperando,
o vinho e as flores,
a água atravessando o lago
e verão e inverno e inverno e verão
e outra vez inverno.
Charles Bukowski

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